Encontre!

novembro 23, 2010

Toda vez que via o sinal da largada, ficava paralisada. Sentia um impulso de não ter impulso. Um medo de saltar. E mergulhar. E nadar como se nada mais importasse, como se somente isso salvasse sua vida. Toda vez que via o sinal da largada, hesitava. Mas se jogava. Descontroladamente. Descoordenadamente. Deselegantemente. E era só braços e pernas. E quase respiração. Movia braços e pernas em movimentos frenéticos. As vezes, imprecisos. Mas velozes. Desengonçados. Mas vorazes. E a respiração? Esquecia-se de respirar. Braço direito. Respira. Não. Não era assim. Exatamente. Braço direito. Rosto fora da água. Mas não tinha pulmão para inspirar. Não tinha expirado no momento anterior. E tentava ir de um fôlego só. A cada braçada o pulmão reclamava mais e mais. A piscina nunca acabava. Ela só precisava de ar. Só precisava de coordenação. Preisava de sincronia. De ritmo.


E terminava sempre debruçada sobre a borda da piscina.

[ofegante]

novembro 06, 2010

, não tinha mais muito tempo para essas coisas, não tinha mais estômago para as velhas coisas. Decidiu caminhar. Juntou os pequenos fragmentos que estavam no relicário do lembrar. E partiu. Partiu a vida em passado e futuro. Partiu os sonhos aos bocadinhos. Partiu o desejo de ficar e ir. Foi e ficou. Foi encontrar as possibilidades do ser. E ficou nostálgica. Ficou com um pé em terra firme e foi com toda alma para a corda bamba. Era bailarina. Era feita de pó. E entre tantos desesquilíbrios fez-se firme. E entre tanta firmeza do concreto, fez-se armada... com voltas e suavidades, com reentrâncias e arabescos de tirarem o ar. De fazer dúvidar que aquilo, realmente, fosse sólido. Era fumaça. E.v.o.l.t.o.u.a.c.a.m.i.n.h.a.r. E se pronunciou:

novembro 02, 2010

Atlas

 E então, vamos viajar, vamos ciganear pelo mundo?!
silêncio
.
.
.
 Vamos, vamos para Normândia.
interogação.

Nunca quis conhecer a Normândia, parece-me sensato começar por lá.


exultação


Corre, vai fazer as malas.




Não tenho nada pra levar. Não quero carregar nenhum peso. Nenhum peso, além deste mundo que trago nos ombros.